Biofilme, corrosão, trocador de calor perdendo eficiência, odores desagradáveis, reclamação do cliente final… em boa parte dos casos, o “vilão invisível” é o mesmo: micro-organismos crescendo em sistemas aquosos industriais. E, para controlá-los, os biocidas continuam sendo ferramentas essenciais. Mas o cenário está mudando rápido: novas moléculas vêm sendo desenvolvidas para responder a pressões regulatórias, demandas de sustentabilidade e maior complexidade dos processos.
Neste artigo, vamos olhar de forma prática para essas novas moléculas biocidas e, principalmente, como aplicá-las com segurança e eficiência no controle microbiológico de sistemas aquosos industriais, como:
Por que falar em “novas” moléculas biocidas?
Se já existem biocidas tradicionais que funcionam, por que investir em novas moléculas? Basicamente, por três grandes motivos:
O resultado é uma busca por biocidas que:
Na prática, isso significa sair da lógica exclusiva de isothiazolinonas, glutaraldeído, DBNPA e cloro/bromados, e incorporar novas gerações de moléculas ou novas combinações sinérgicas.
Principais tendências em novas moléculas biocidas
Não existe uma “molécula mágica” que resolva tudo. O que vemos, na prática, é um conjunto de tendências tecnológicas. Entre as mais relevantes:
Biocidas baseados em liberação controlada
Sistemas de liberação controlada vêm ganhando espaço em aplicações onde o pico de concentração seguido de queda rápida não é desejável. A ideia é liberar o agente biocida de forma gradual, mantendo uma concentração efetiva por mais tempo, com menor risco de subdosagem e menor necessidade de intervenção manual.
Algumas aplicações típicas:
Essas tecnologias muitas vezes combinam um biocida conhecido com um “carreador” inteligente (polímeros, matrizes sólidas, cápsulas, etc.), que controla a taxa de liberação na água.
Novas gerações de biocidas oxidantes “mais seletivos”
Os biocidas oxidantes tradicionais, como cloro e bromo, continuam importantes, mas apresentam limitações bem conhecidas:
Novas moléculas oxidantes, ou combinações de oxidantes, têm sido desenvolvidas com foco em:
Um exemplo é o uso de sistemas baseados em liberadores de peróxidos ou perácidos otimizados, muitas vezes combinados com estabilizantes ou ativadores que ampliam a janela de eficiência em condições industriais reais.
Moléculas não oxidantes de nova geração
No campo dos biocidas não oxidantes, a tendência é clara: manter ou aumentar a eficácia microbiológica com menor toxicidade para o operador e menor impacto ambiental. Algumas características dessas novas moléculas e formulações:
Em muitos casos, essas moléculas vêm substituindo ou complementando ativos clássicos, como glutaraldeído, em aplicações onde há:
Sinergias e blends inteligentes
Um ponto central nas inovações recentes não é apenas a molécula em si, mas a forma de combiná-la. Em vez de apostar em um único “superbiocida”, a indústria tem adotado “blends inteligentes” que exploram sinergias:
Essa abordagem permite:
Segurança: o que muda com as novas moléculas
Quando falamos em aplicação segura, não basta olhar a FISPQ e marcar alguns EPIs. As novas moléculas biocidas vêm acompanhadas de um pacote de requisitos que impactam diretamente a rotina da planta:
Três pontos merecem atenção especial na prática:
1. Classificação de perigo e comunicação interna
Mesmo quando a molécula é “mais verde” ou “menos tóxica” que os biocidas tradicionais, ela continua sendo um agente biocida potente. É fundamental:
2. Compatibilidade com materiais e outros produtos químicos
Novas moléculas podem reagir de forma diferente com:
Na implantação, é essencial fazer um estudo prévio de compatibilidade, especialmente em sistemas antigos com materiais menos comuns.
3. Impacto na estação de tratamento de efluentes
Um erro clássico é focar no sistema de água de resfriamento ou processo e esquecer que tudo, no fim, vai parar na ETE. Biocidas mais estáveis podem:
Ao adotar novas moléculas, é importante avaliar:
Como selecionar um biocida moderno para seu sistema aquoso
Na prática, a escolha de um biocida moderno e de sua forma de aplicação deve seguir uma lógica estruturada, e não apenas a comparação de rótulos ou preço por kg. Um roteiro útil inclui:
Somente depois desse passo a passo faz sentido comparar diferentes soluções em termos de:
Boas práticas de aplicação segura em campo
Independentemente da molécula escolhida, algumas boas práticas são praticamente universais para garantir segurança e desempenho.
1. Começar com um baseline bem definido
Antes de trocar ou introduzir um biocida novo, é importante saber de onde você está saindo:
Sem esse baseline, fica difícil comprovar melhoria – e, principalmente, identificar rápido se algo deu errado na implementação.
2. Ajustar dosagem e modo de aplicação de forma gradual
A tendência em campo é querer resultados imediatos com uma “dose de choque” agressiva. Em sistemas sensíveis (por exemplo, com forte formação de biofilme e presença de MIC), isso pode soltar grandes quantidades de depósitos, levando a:
A recomendação é planejar uma transição em etapas, com monitoramento intensivo nos primeiros dias/semanas.
3. Profissionalizar o manuseio e a dosagem
Novas moléculas muitas vezes vêm em formulações concentradas, com requisitos específicos de manuseio. Alguns cuidados práticos:
Monitoramento: sem dados, não há controle microbiológico
Com moléculas mais modernas, o monitoramento deixa de ser algo “de vez em quando” para tornar-se parte essencial da própria estratégia. Algumas práticas importantes:
Em projetos em que novas moléculas biocidas foram implantadas com sucesso, um ponto em comum quase sempre aparece: disciplina no monitoramento e ajustes baseados em dados, não em sensação.
Erros comuns ao adotar novas moléculas biocidas
Alguns erros se repetem com frequência quando uma planta decide modernizar seu controle microbiológico:
Para onde estamos indo no controle microbiológico de sistemas aquosos
A tendência é clara: biocidas mais específicos, mais seguros e mais alinhados com critérios de sustentabilidade. Mas isso não significa que o trabalho ficará mais simples. Pelo contrário:
Empresas que enxergam biocidas apenas como “um produto químico a mais” tendem a perder oportunidades de redução de custo total, aumento de confiabilidade operacional e melhoria de imagem perante clientes e órgãos reguladores.
Já aquelas que tratam o controle microbiológico como parte estratégica da gestão de água e ativos industriais conseguem extrair o valor real das novas moléculas: menos paradas, menos falhas prematuras de equipamentos, maior segurança e melhor desempenho ambiental.
Se sua planta está avaliando a adoção de novas soluções biocidas, o passo seguinte é transformar essa discussão em um projeto estruturado: diagnóstico detalhado, definição clara de objetivos (redução de corrosão, extensão de vida útil, melhoria de desempenho da ETE, etc.), piloto bem monitorado e, a partir daí, padronização com base em resultados mensuráveis.