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Estratégias para reuso de água em indústrias de alimentos e bebidas sem comprometer a qualidade e a segurança do produto final

Estratégias para reuso de água em indústrias de alimentos e bebidas sem comprometer a qualidade e a segurança do produto final

Estratégias para reuso de água em indústrias de alimentos e bebidas sem comprometer a qualidade e a segurança do produto final

Por que o reuso de água é um tema crítico em alimentos e bebidas?

Indústrias de alimentos e bebidas dependem de água em praticamente todas as etapas: matéria-prima, limpeza, geração de vapor, refrigeração, utilidades e serviços. Ao mesmo tempo, são um dos segmentos mais pressionados por órgãos reguladores, clientes e consumidores em relação à segurança de produto e ao uso responsável de recursos naturais.

Surge então a pergunta-chave: é possível aumentar o reuso de água sem abrir nenhuma brecha para riscos microbiológicos, químicos ou de corpo estranho no produto final? A resposta é sim – desde que o reuso seja planejado com critérios técnicos claros, barreiras múltiplas de proteção e integração com os sistemas de qualidade e segurança de alimentos (APPCC/HACCP, BPF, FSSC 22000, etc.).

O objetivo deste artigo é mostrar, de forma prática, como estruturar estratégias de reuso em indústrias de alimentos e bebidas, apontando:

Regulações e limites: até onde o reuso pode ir?

Antes de pensar em tecnologia de tratamento, é essencial entender o “campo de jogo” regulatório. Alguns pontos-chave para o contexto brasileiro:

Normas técnicas como a ABNT NBR 13.969 e a ABNT NBR 15.784 trazem referências de classes de água de reuso e seus parâmetros, que podem ser usadas como base para critérios internos. Além disso, diretrizes internacionais (OMS, FAO, Codex Alimentarius) ajudam a balizar decisões para exportadores.

Ponto importante: usar efluente tratado diretamente como água de processo ou ingrediente é, na prática, incompatível com os requisitos de segurança de alimentos. Quando falamos em reuso próximo ao produto, o caminho seguro é outro: reuso interno de água de alta qualidade (por exemplo, permeados, condensados, água de enxágue final) e não de efluente sanitário ou misto, mesmo que tratado.

Mapeamento de fluxos: onde está o potencial real de reuso?

O passo mais negligenciado – e o mais importante – é o mapeamento detalhado de onde a água entra, onde sai e com que qualidade. Sem isso, o reuso vira aposta, não decisão técnica.

Um bom diagnóstico inclui:

Com essa visão, fica mais fácil aplicar a lógica: água de melhor qualidade, vinda de usos mais “limpos”, tem maior potencial de reuso em aplicações internas de maior valor agregado.

Estratégias seguras de reuso por tipo de aplicação

Uma maneira prática de evitar riscos é classificar os usos da água em três grupos, do ponto de vista de segurança de alimentos:

Vamos ver, na prática, onde o reuso faz mais sentido.

Reuso em aplicações sem contato com o produto (Grupo C)

Aqui está o “low hanging fruit” da maioria das indústrias de alimentos e bebidas. Exemplos típicos:

Nesses usos, a água de reuso pode ser proveniente de:

Mesmo sem contato com o produto, é importante controlar:

Reuso em aplicações próximas, porém sem contato direto (Grupo B)

Aqui entram usos mais sensíveis, nos quais a água não toca o produto, mas se aproxima do ambiente de produção ou superfícies higienizadas, por exemplo:

Para esses usos, é viável aproveitar:

O ponto crucial neste grupo é a gestão rigorosa das barreiras de segurança:

Reuso em contato direto com o produto (Grupo A): onde o cuidado é máximo

De forma geral, não se recomenda o uso de água de reuso como ingrediente ou em contato direto com o produto, mesmo que a água tenha sido tratada até níveis de potabilidade. Isso porque:

Existe, porém, uma situação específica frequentemente viável: reaproveitamento de água de alta qualidade gerada dentro do próprio processo, por exemplo:

Nesses casos, a chave é: enxergar essa água como uma “nova fonte” que precisa cumprir, de forma comprovada, todos os requisitos de água de processo. Isso implica:

Tecnologias de tratamento: construindo barreiras múltiplas

Não existe uma única tecnologia “mágica” para viabilizar o reuso. O que funciona na prática é combinar etapas de tratamento em série, cada uma atacando um tipo de risco. Um arranjo típico para indústrias de alimentos e bebidas pode incluir:

Do ponto de vista de segurança, o mais importante não é ter a tecnologia de última geração, mas sim:

Integrando o reuso ao APPCC e à gestão da qualidade

Na indústria de alimentos e bebidas, qualquer alteração em água precisa conversar com o sistema de gestão existente. Algumas boas práticas:

Passo a passo para implantar um projeto de reuso sem sustos

Resumindo a abordagem prática, um roteiro funcional é:

Erros comuns e boas práticas observadas em indústrias brasileiras

Na prática de consultoria e acompanhamento de projetos, alguns padrões se repetem.

Erros frequentes:

Boas práticas que fazem diferença:

Benefícios práticos: mais do que economia de água

Quando bem implementado, o reuso de água em indústrias de alimentos e bebidas traz retornos em múltiplas frentes:

O ponto central é que não existe oposição entre reuso de água e segurança de alimentos. O que existe é a necessidade de tratar o tema com a mesma disciplina técnica aplicada a qualquer etapa crítica de processo: análise de riscos, barreiras múltiplas, monitoramento e melhoria contínua.

Quando a engenharia de utilidades, o time de meio ambiente e a área de qualidade trabalham juntos, o resultado é um sistema de reuso que reduz custos, protege recursos hídricos e preserva – ou até fortalece – os níveis de segurança e qualidade do produto final.

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